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O trabalho da artista

 qual a obra de toda a História da Arte era a mais tocantes para eles; uma escolha nada fácil em tantos séculos de arte.É muito interessante perceber nesta selecção feita por eles o alargado referencial de suas escolhas e a partir daí, tentar sentir no seu trabalho onde tudo isso se encaixa. Aqui ficam  suas escolhas.


Deixar brotar do inconsciente a força de sua ação criadora, expulsar a emoção contida na indignação frente a atos que até hoje nos oprimem foram atitudes estéticas adotadas pelos artistas das vanguardas do pós-guerra e que ainda devem ser consideradas pelos contemporâneos.

Essa representação de mundo que acontece de dentro para fora vem carregada de um eu muitas vezes desconhecido, obscurecido pelo véu do inconsciente. Esse “não sei quê”, de natureza psíquica, pleno de emoção criativa, manifesta-se, se assim o permite a presença controladora do artista, ávido pela solução dos obstáculos que incomodamente se colocam em seu caminho e pela gratificação da conclusão bem sucedida.

Para Leonardo Da Vinci, a pintura era cosa mentale. A visão do gênio já estabelecia critérios específicos sobre a criação como algo intrínseco à mente humana, inseparável desta. Pode haver algo mais estranho do que o ato do olhar que pensa o espaço, e que somente assim a visão pictórica alcança promover a espaço de representação?

Meu interesse é o de fazer pintura, pintura de ação, de continuação e de desconstrução, de controle e de reflexão. Imagino os elementos compositivos, a luz e a sombra, as cores, os volumes e os planos, não como propriedade passiva da pintura, mas como força ativa que se manifesta no campo pictórico e que a inteligência do olho organiza.

O diálogo se estabelece entre o artista e sua obra no instante criativo do tempo em suspensão, uma latência, uma espera, para que o espaço pictórico “peça” o que lhe é devido. A ativação do espaço pictórico transforma o “

Pollock acabou com a frontalidade , que privilegia a visão e aumenta a presença do corpo na ação. Dentro da pintura, como ele dizia, reduzia ao mínimo o caráter projetivo sobre o suporte. Surgiu como produto, uma horizontalidade movediça que, depois da ação consumada, ganha profundidade e se transforma em superfície, numa composição “all over”, num sistema indiferenciado de motivos uniformes que dão a impressão de se estenderem para além da moldura, como um painel infinito ou um grande papel de paredes (figura 16).
A lona estendida sob seus pés foi entendida por Pollock, metaforicamente, como plano, como linha conceitual que traçava os limites de sua ação. No único texto que publicou em vida, de 1947, Pollock declarou ter necessidade da resistência de uma superfície dura. Com a lona no chão, podia girar ao redor dela e trabalhar dos quatro lados. 



 Mirò, Mondrian, Kandinsky, Klee, Matisse, Léger e Picasso foram os artistas que influenciaram diretamente os pintores americanos no que se refere ao desenho livre, ao espaço aberto e ambíguo, ao gosto instintivo pela expressão de si e por um certo romantismo. Cada um a sua maneira, fazem a preparação do terreno para recebê-los e abrem as portas à abstração, fazendo da pintura a expressão da subjetividade. O mundo das artes se destituiu de formas e objetos reconhecíveis do mundo exterior, enfatizando signos e símbolos do mundo 
Todos os artistas sofrem influências: obras ou artistas que referenciam.  O  motivo da escolha aqui é muito próprio e pessoal e a experiência estética perante a obra escolhida é sempre única e intransferível. A técnica, o estilo ou a emoção que o artista sente perante a obra são factores decisivos.

“Foi a primeira obra de arte que eu vi e que tive a impressão de que sentia o mesmo que o artista sentia enquanto ele pintava”.
Jackson Pollock: Summertime: Number 9A, 1948. Acervo TATE Modern
Jackson Pollock: Summertime: Number 9A, 1948.


Kandinsky era extremamente cuidadoso no que se referia ao conteúdo formal de seu trabalho. Não queria simplesmente “inventar” formas, pois não se encontram formas “à força”, todo artista deve respeitar seus limites e sua natureza. O que deveria substituir o “objeto faltante” tinha de nascer espontaneamente, no exercício da pintura. Essa concepção é um processo espiritual, de maturação interior, em que mente e corpo trabalham em conjunção. Esse momento, que às vezes parece durar toda uma eternidade, vem seguido de um prazer inigualável, feliz, e a tensão da espera dignifica ainda mais o resultado. Nas palavras do artista, “o tempo impele os homens – mas o que impele depressa demais, seca ainda mais depressa – sem profundidade, não há altitude” (Kandinski 1990: 224). 

“Decidi escolher este artista por apreciar bastante a estética das suas esculturas, assim como o manuseamento que faz dos materiais envolvidos na sua criação. Porém aprecio acima de tudo o processo e a história pessoal que levou este artista a expressar e executar o seu trabalho. Desde a filosofia e o processo espiritual até à execução minimalista e processual da mesma”.
Wolfgang Laib : Pollen from Hazelnut, 1992.
Wolfgang Laib: Pollen from Hazelnut, 1992.

“A minha escolha é a obra The Waterfall do Henri Rousseau, uma obra feita já no final da sua vida e que me cativa, bem como toda a série da temática da floresta. As cores, a representação dos elementos numa linguagem naïf , simples e eficaz, sinto as suas pinturas como verdadeiras histórias ilustradas”.
Henri Rousseau: The Waterfall, 1910. Acervo Art Institute of Chicago.
Henri Rousseau: The Waterfall, 1910. Acervo Art Institute of Chicago.

“Cruel to have to make a choice among hundreds of years of master pieces.. but for today here’s mine: Portrait of a young woman (La belle Ferroniere) circa 1495-1499, Leonardo da Vinci. I could have chosen a less known art work by a less known artist but… I saw this painting at the National Gallery in London during a special Da Vinci exhibition (normally it’s in the Louvre) and I was just bedazzled.
I’m sensitive to so many works of art throughout history, from medieval to contemporary, but when I met this portrait it was like falling in love with the woman of my dreams.. I looked straight into her eyes and shed some tears. For those who know me it’s easier to find lunar rocks on earth then tears in my eyes… There’s a universe of tenderness yet a firm character, noble but sensual personality and must be a good cook (she’s italian after all..). I find it the most sensitive of all Leonardo’s portraits (including Mona Lisa…). It’s not a matter of technic, style, period, etc.. but just an unexplainable feeling like faith, love… “
Leonardo da Vinci: Portrait of a young woman (La belle Ferroniere) circa 1495-1499.
Leonardo da Vinci: Portrait of a young woman (La belle Ferroniere) circa 1495-1499.
Francisco de Goya é um dos pintores cuja obra sempre me atraiu, este trabalho em particular permite-se a um lado especulativo no que toca aos seus significados para além dos mais académicos. No meu caso, imagino o pintor, absorto, a olhar para as nuvens, imagem que posso materializar facilmente tendo em conta a proximidade das nossas paisagens ibéricas, numa Espanha dividida e mergulhada num estado de violência que é também o estado interior do artista. As figuras são como que esboçadas no espaço, suspensas numa composição desequilibrada, anunciadas no seu próprio método de execução, a pincelada solta e rápida, livre.
De uma forma pessoal é daquelas obras recorrentes no meu pensamento, sobretudo na tentativa de encontrar uma explicação para a sua génese, sem que saiba realmente o porquê, mas continuo a pensar nela”.
Francisco de Goya: Duelo a garrotazos, 1820 - 1823. Acervo Museu do Prado.
Francisco de Goya: Duelo a garrotazos, 1820 – 1823.
Acervo Museu do Prado.

“A obra “De Onde Viemos? O Que Somos? Para Onde Vamos?” é para mim muito curiosa enquanto artista e apreciadora de arte, pois invoca as questões universais do ser humano num manto estranho e familiar. Apesar de serem questões elaboradas, já Gauguin escrevia que o nome da obra foi dado não como um título, mas como uma assinatura, como uma dúvida posterior que surgiu após a sua criação. Apesar do seu carácter monumental, inspirado nos grandes clássicos e distorcido num estranho purgatório, a demanda da obra conforma-se com a sua derradeira inocência – a ingenuidade da arte e, portanto, da vida”.
Paul Gauguin: D'où Venons Nous ? Que Sommes Nous? Où Allons Nous ?, 1897.  Acervo: Museum of Fine Arts, Boston.
Paul Gauguin: D’où Venons Nous ? Que Sommes Nous? Où Allons Nous ?, 1897. Acervo: Museum of Fine Arts, Boston.

“Esta foi uma das primeiras obras que me lembro de ver, adorar e investigar. Pelas cores, composição e riqueza de significados escondidos e pela necessidade de criar tempos de leitura diferentes para as cenas paralelas que acontecem entre as personagens”.
Sandro Botticelli: A primavera, t.1492. Acervo: Galeria Uffizi, Florença.
Sandro Botticelli:
A primavera, t.1492. Acervo: Galeria Uffizi, Florença.

“É uma escolha quase impossível, a que pretende destacar uma só obra, singular, de entre todas as que povoam a História da Arte. Há inúmeras obras que – por motivos diferentes – me dizem muitíssimo, e cuja impressão indelével se encontra profundamente marcada nas raízes da minha identidade – pessoal e artística.
Este obra em particular,  acontece-me aquilo que acredito que sempre deva acontecer com uma obra de arte: a imagem fala comigo. Fala-me de um modo que não sei absolutamente compreender (nem explicar), mas que posso descrever como um fascínio, um chamamento, uma emoção tão familiar que é quase primitiva, um reconhecimento primordial.
Acredito que o seu simbolismo me toca pela ambiguidade trágico-feliz que lhe encontro – faz-me pensar na infância, e no assombro poderosíssimo deste malabarismo entre a angústia imensa face ao desconhecido e a alegria libertadora pela maravilha da descoberta. O quadro afigura-se-me como uma narrativa suspensa no tempo por breves instantes, que convida ao mergulho no imaginário – um gesto para mim irresistível”.

Giorgio de Chirico: Mistério e Melancolia de Uma Rua",  (1914).
Giorgio de Chirico: Mistério e Melancolia de Uma Rua”, (1914).

“É sempre difícil escolher uma obra preferida, sobretudo porque obras diferentes nos vão tocando de formas diferentes em alturas diferentes do nosso percurso.  Escolhi este projecto do artista Belga Francis Alyspelo conceito forte que resulta numa obra poética e subtil que re-visito frequentemente”.
Francis Alÿs. A story of Deception: room guide, When Faith Moves Mountains.  In collaboration with Cuauhtémoc Medina and Rafael Ortega When Faith Moves Mountains (Cuando la fe mueve montañas) Lima 2002 Private collection  © Francis Alÿs Photo: Video still.
Francis Alÿs. A story of Deception: room guide, When Faith Moves Mountains. In collaboration with Cuauhtémoc Medina and Rafael Ortega When Faith Moves Mountains (Cuando la fe mueve montañas) Lima 2002 Private collection © Francis Alÿs Photo: Video still.

“Quando estive em Montivideo em 2010 conheci o Universo Construtivo do artista uruguaio Joaquín Torres Garcia e despertou-me grande interesse. A obra América Invertida é a obra mais representativa da colecção do pintor.
Após passar anos estudando e trabalhando na Europa, Torres olha para suas origens e repensa sua arte. Ao reconstruir a ideia terrena do ponto de vista quase sempre guiado por uma bússola ou mapa. Nos questionando por onde e pelo o quê nos orientamos, com ou sem os pés no chão”.
Joaquín Torres García: América Invertida, 1943. Acervo: Museo Torres García, Montevideo.
Joaquín Torres García: América Invertida, 1943. Acervo: Museo Torres García, Montevideo.